Uma autoestima saudável implica uma perceção positiva acerca de nós próprios. Ou seja, não depende diretamente da forma como os outros nos percecionam. Alguém ao nosso redor pode desvalorizar-nos e, mesmo assim, termos uma boa opinião acerca de nós mesmos. Da mesma forma, alguém ao nosso redor pode admirar as nossas qualidades e nós não valorizarmos essas qualidades em nós.
Por outro lado, a autoestima não é algo que seja imutável. Ou seja, se alguém não tem uma autoestima saudável hoje, isso não significa que essa pessoa tenha de ficar nessa condição para o resto da vida. A forma como nos vemos a nós próprios pode ser alterada a qualquer momento. É só preciso que estejamos dispostos a investir em nós, procurando ajuda e fazendo trabalho interno.
O que é a autoestima
A autoestima é considerada uma necessidade humana fundamental. De acordo com Morris Rosenberg, que desenvolveu estudos neste tema e inclusive criou uma escala de mensuração que é mundialmente utilizada, a autoestima é um conjunto de sentimentos e pensamentos de cada indivíduo sobre o seu próprio valor, competência e sentido de adequação.
A autoestima é, pois, uma avaliação de como cada um de nós se vê a si próprio. Assim, tem a ver com os pensamentos e sentimentos que temos em relação a nós próprios. No final, essa avaliação reflete-se necessariamente numa atitude positiva ou negativa em relação a nós mesmos
Mas como são construídos esses pensamentos e sentimentos que temos em relação a nós mesmos? A autoestima é nivelada através das nossas experiências e histórias de vida. Na infância, a opinião que os outros expressam sobre nós e a forma como somos tratados, influenciam grandemente a nossa percepção sobre nós mesmos.
Dessa forma, os modelos transmitidos especialmente pelos progenitores, família e professores acabam por moldar a forma como nos vamos apercebendo a nós próprios e ao mundo. À medida que crescemos, a nossa autoestima vai dessa forma sendo criada.
Comentários negativos, rótulos depreciativos, maus-tratos e negligências continuadas vão contribuir para criar conflitos internos, acabando por se refletir numa baixa autoestima. Da mesma forma, comentários positivos e um ambiente de aceitação, carinho e respeito, vão contribuir para uma autoestima saudável.
O conceito de autoestima abarca tanto o sentimento de aceitação por nós próprios como o sentimento de competência e dignidade pessoal. Quem tem uma autoestima saudável respeita-se a si mesmo, reconhecendo o seu valor individual.
Existem diferentes conceitos quanto aos vários tipos de autoestima que existem. Neste artigo, vamos considerar os três tipos mais usuais: autoestima baixa, autoestima alta e boa autoestima.
Baixa autoestima
Quem cresceu num ambiente em que desde muito cedo foi subvalorizado ou destratado através de expressões do tipo: “Logo vi que não ias ser capaz de fazer isso como deve de ser!”, “És mesmo um inútil, não fazes nada de jeito!”; “Tu não tens voto na matéria, fazes o que te digo e mais nada!”, muito dificilmente será capaz de criar uma boa autoestima.
Será provável que venha a considerar todas as outras pessoas acima de si mesmo. Por não acreditar nas suas competências e habilidades, terá dificuldade em alcançar os seus objetivos. Mais tarde, poderá também ter tendência a relacionar-se com pessoas abusivas, espelhando as experiências do passado.
Caraterísticas de autoestima baixa
As principais caraterísticas de uma baixa autoestima são:
- Debilidade ou ausência total de autoconfiança. Não acreditar em si próprio, mesmo que dê mostras de ter capacidade para alcançar metas e objetivos;
- Não gostar de si próprio. Não se respeitar. Pode mesmo sentir vergonha de si próprio;
- Não se valorizar, descurando o seu corpo e as suas condições de vida;
- Ter baixa tolerância perante erros. Tendência para se autopunir sempre que existam falhas ou erros;
- Ter medo da rejeição e exclusão social. Como tem necessidade de reconhecimento externo, demonstra excessiva preocupação com a opinião alheia;
- Ter dificuldades em aceitar críticas;
- Ter dificuldades em dizer não ou em estabelecer limites;
- Ter tendência para a vitimização;
- Ter tendência a evitar novos desafios. Por isso, é habitual procrastinar e procurar justificações para não tomar ações que necessitaria tomar;
- Rigidez consigo próprio e com os outros.
Autoestima alta
Desengane-se quem pense que este tipo é preferível ao anterior. Na realidade, pode igualmente tornar-se problemática.
O que está na base de uma autoestima demasiado elevada? Pode ter sido que desde cedo, por incúria ou excesso de proteção, os progenitores tenham falhado no estabelecimento de regras e limites. Crianças que recebem validação para fazerem tudo o que querem ou que são colocados num pedestal, podem adquirir comportamentos arrogantes, egocêntricos e abusivos.
Neste caso, possivelmente terão sido repetidas frases como estas: “Tu és muito especial e mereces o melhor. És o melhor em tudo. És superior a todos os teus colegas”. À primeira vista, estas podem parecer palavras muito encorajadoras, contudo podem tornar-se contraproducentes. Remetem a uma ideia de superioridade.
Pode também ter sido que os pais fossem demasiado exigentes, com expetativas demasiado elevadas quanto ao desempenho dos filhos. “Tens de ser o melhor da turma e provar que és o mais inteligente!”, “Tens de te esforçar para vencer todos os outros”. Frases como esta criam pressão nas crianças para corresponder às expetativas dos pais. Como resultado, as crianças sentem-se obrigadas a ser melhores do que os outros. É como se o mundo girasse em torno delas e das suas vitórias.
Caraterísticas de uma autoestima alta
As principais caraterísticas de uma autoestima alta são:
- Personalidade muito vincada, em que predomina o orgulho, a arrogância e o egoísmo;
- Não dar importância aos seus pares, por acreditar ser melhor do que eles;
- Não aceitar críticas nem observações que ponham em causa o seu desempenho. Consideram esse mesmo desempenho irrepreensível;
- Incapacidade para reconhecer falhas e erros;
- Tendência para atribuir as culpas aos outros;
- Para se sentir superior, pode mesmo rebaixar os outros;
- Insatisfação perante boas oportunidades que possam surgir, por considerar merecer sempre mais;
- Tendência para ver o mundo de uma forma superficial e não objetiva.
Autoestima saudável
Este tipo é obviamente o único que revela uma autoestima saudável. Quem tem uma boa autoestima geralmente cresceu num clima adequado de respeito e proteção. Recebeu incentivos por parte de pais ou cuidadores que lhe permitiram ganhar autoconfiança e desenvolver habilidades próprias, de forma a poder dar ao mundo o melhor de si.
A criança foi interiorizando a crença de ser alguém meritório e digno. Pode ter crescido com frases como estas: “Fizeste um bom trabalho”, “Não estiveste muito bem, mas fizeste o melhor que podias e sempre podes melhorar”. “Isso não é o teu ponto forte, mas vais sempre ser bom numas coisas e menos bom em muitas outras”.
Caraterísticas de uma autoestima saudável
As principais caraterísticas de uma boa autoestima são:
- Forte conceito de si mesmo, tendo aptidão para lidar com os desafios e situações de conflito;
- Capacidade de aceitar os seus defeitos, esforçando-se por melhorar;
- Reconhecer os seus talentos e pontos fortes, o que contribui para a sua valorizacão como pessoa;
- Ter confiança em si próprio, nas suas ideias e na sua capacidade de tomar decisões;
- Respeitar, expressar e defender os seus interesses e necessidades;
- Não recear cometer erros, sabendo transformá-los em oportunidades de aprendizagem;
- Ser aberto a críticas, conseguindo ver sempre o lado positivo;
- Saber expressar as suas emoções;
- Pode ser sensível às críticas, contudo não depende de opiniões ou aprovações externas;
- Ser colaborativo, respeitando e tendo consideração pelos outros;
- Aventurar-se em novas atividades e desafios, não se poupando a esforços para alcançar os seus objetivos;
- Gostar de ser reconhecido pelas suas qualidades, mas não tolerando adulações ou referências exageradas.
Como ter uma autoestima saudável
Uma das melhores formas de fortalecer a autoestima é passar por um processo de desenvolvimento pessoal. O autoconhecimento faz-nos aumentar a confiança em nós próprios. Quando o nível de autoconfiança aumenta deixamos de precisar da aprovação dos outros. Ajuda-nos também a melhorar a comunicação, incentivando-nos a expressar as nossas necessidades com clareza.
Quando te conheces e te aceitas plenamente como és, com todas as tuas qualidades e defeitos, estás a promover a autoestima. É, pois, importante que saibas identificar os teus pontos fortes, talentos e habilidades, bem assim como os teus pontos fracos.
Nem todos vão gostar de ti
Toma nota que nem toda a gente te vai aceitar. Faças o que fizeres, terás sempre pessoas que não vão gostar de ti. Quando te aceitares como és, acredita que não te vais importar que determinadas pessoas não gostem de ti. A tua validação interna sobre ti próprio será suficiente.
Aprender a estabelecer limites
Independentemente de se ser ou de não se ser aceite, é importante estabelecer limites às críticas dos outros. Claro que devemos ter a capacidade de admitir os nossos erros, no entanto, não somos os culpados por tudo o que de mal acontece no mundo. Assim, assume e trata de corrigir os teus erros o mais rápido que te for possível, mas não assumas os erros dos outros. Não permitas que façam de ti o “bode expiatório” de serviço.
Valorização pessoal
Aprende a valorizar-te a ti próprio. Cuida do teu corpo e melhora a tua autoimagem. Procura alimentos nutritivos e saudáveis. Faz exercício físico e esforça-te por dormir as horas que são importantes para o teu bem-estar. Faz atividades que te deem prazer, tal como passear, ler um bom livro, ouvir música do teu agrado, dançar ou muito simplesmente relaxar. Tudo isto contribui para uma autoestima saudável.
Transformar pensamentos negativos em positivos
Não admitas ter pensamentos negativos acerca de ti próprio. Se deres contigo a maltratar-te em pensamentos, reverte esses mesmos pensamentos para outros de carinho e motivação. Da mesma forma, não permitas que os outros te tratem mal ou tentem inferiorizar.
Curar o passado
Se for caso disso, é importante que identifiques o que está a acontecer ou aconteceu no passado que possa ter contribuído para fragilizar a tua autoestima. Em alguns casos pode ser aconselhável acompanhamento especializado para trabalhar desequilíbrios emocionais e traumas psicológicos.
O poder da Gratidão
Procura ser grato por tudo o que já tens de bom na tua vida. Esforça-te por ver sempre a melhor faceta de ti próprio e dos outros. Rodeia-te de pessoas positivas pois estas irão ajudar-te a estar de bem com a vida e contigo próprio. Da mesma forma, evita todos aqueles que têm por costume considerar-se vítimas de toda a espécie de injustiças ou que criticam tudo e todos. Pessoas negativas fazem-te mal emocionalmente e destroem a tua autoestima.
Sair da Zona de Conforto
Não tenhas medo de abraçar a mudança. Sai da tua zona de conforto e permite-te crescer e inovar para que possas mostrar o teu valor. Não deixes de seguir os teus sonhos. Procura saber o que queres da vida e aprende a definir metas e objetivos. Alcançar algumas dessas metas, por pequenas que sejam, irá dar-te a confiança que precisas. Irá também contribuir para aumentar a perceção positiva que as pessoas têm de ti. Mais sobre este tema neste artigo: Seguir os nossos sonhos.
Fazer coisas diferentes
Para teres uma autoestima saudável, atreve-te a fazer coisas diferentes todos os dias. Mesmo que seja só descobrir um outro percurso para chegar ao emprego, saborear alimentos que nunca provaste ou experimentar uma nova atividade. A estagnação está longe de promover uma boa autoestima.
Para finalizar, tem sempre presente que és a pessoa mais importante da tua vida. Se não estiveres bem, não conseguirás estar bem com os outros. Quando te sentires bem contigo próprio, vais tornar-te mais interessante aos olhos dos outros e atrair pessoas positivas. Por isso, transforma-te no teu melhor amigo e procura ter uma autoestima saudável para poderes ser feliz.
*Helena Martins é Terapeuta e Coach com foco em Propósito de Vida e Transformação Pessoal. Nas suas consultas utiliza ferramentas do Life-Coaching, da Terapia Transpessoal, do Método de Louise Hay e da Psicossomática.