Crise de meia-idade: Mito ou realidade?

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Helena Martins

Ao contrário do que nos é sugerido, nem toda a gente vai ser confrontada com a tão temida crise de meia-idade. Não são conhecidos estudos que apontem para estimativas reais, mas acredita-se que somente uma parte diminuta da população mundial enfrente ou venha a enfrentar qualquer tipo de crise existencial nessa fase específica da vida.

Afinal não podemos esquecer que crises existenciais podem verificar-se a qualquer altura da nossa vida. Ou seja, as crises não são propriamente consequência da idade. Devem-se mais a motivos como mudanças inesperadas, perdas de entes queridos, casamentos infelizes ou divórcios, doenças graves, fracassos financeiros, despedimentos, insatisfação no trabalho, acumular de stress, etc. 

O que é afinal a crise de meia-idade?

A expressão “crise de meia-idade” surge pela primeira vez na década de 60 e tem como autoria Elliott Jaques, um estudioso canadense. É atribuída a pessoas na faixa etária entre os quarenta e sessenta anos que ao defrontar-se, por um lado, com a perda da juventude e, por outro, com a inevitabilidade da própria morte, entrariam em processo de crise.

Esta expressão contém em si a existência de sentimentos como medo, insegurança, frustração, angústia e ansiedade. Refere o confronto com a sensação de não se ter aproveitado bem a vida ou tomado as melhores decisões. E ainda com a percepção de restar pouco tempo para a concretização de projetos ou sonhos adiados ao longo do tempo.

Senhora de meia-idade, com rolos de pentear nos cabelos. Ter um ar apavorado, sugerindo que não se sente bem com a sua aparência e idade.

Entre a juventude perdida e a aproximação da velhice

Na juventude é suposto ter-se a vida toda pela frente. Já na meia-idade, constata-se não existir tanto tempo assim. Por outro lado, torna-se evidente a aproximação da velhice. Aos sintomas provocados pela menopausa ou andropausa (mudanças de humor, irritabilidade, alterações hormonais, diminuição da libido, insónias, etc.) somam-se as rugas, os cabelos brancos e a perda do vigor físico.

Do mesmo modo, existe também a pressão da sociedade para que se viva e produza ao mesmo ritmo que se vivia ou produzia no passado. Na realidade, apesar de já não se ter a agilidade e a dinâmica próprias da juventude, não raras vezes é exigido no meio laboral que pessoas de mais idade produzam o mesmo ou até mais do que os funcionários mais novos.

O que pode levar à crise de meia-idade

Múltiplos fatores podem desencadear uma crise na meia-idade. Ainda cumprindo as suas responsabilidades no mundo do trabalho, é preciso lidar com as suas próprias alterações fisiológicas, com a saída dos filhos de casa e com a chegada dos netos. Além disso, essa é a fase em que se verifica o envelhecimento dos pais e consequente fragilidade que pode chegar à perda da dependência. Eventualmente podem também surgir perdas significativas, ruturas e doenças graves. Tudo isto junto pode levar a uma sensação de solidão, desamparo, confusão e perda de utilidade.

Outros fatores a considerar

  • Insatisfação com a vida, quer seja a nível pessoal ou profissional. A pessoa lamenta-se de coisas que poderia ter feito ou decisões que deveria ter tomado e não tomou. Essa insatisfação pode levar a um desejo incontrolado de voltar atrás no tempo e começar de novo, fazendo tudo diferente.
  • Falta de um Propósito de vida. As coisas que antes faziam sentido, agora deixam subitamente de fazer. De repente, pessoas cuja motivação sempre passou pela família, ao assistirem à saída dos filhos de casa são confrontadas com o sentimento de inutilidade e falta de um propósito.
  • Confusão sobre quem se é e sobre o rumo que a vida está a tomar. Assim como na juventude, regra geral, não se perde demasiado tempo com reflexões, já na meia-idade existe um abrandar de ritmo, o que implica mergulhar mais no nosso mundo interior.   
  • Sensação de incerteza relativamente ao futuro, o que provoca ansiedade e também nostalgia perante o passado.
  • Podem existir dificuldades ao nível de adaptação à nova etapa de vida. Como resultado, acaba por se verificar incapacidade para traçar novos planos para o futuro, o que seria saudável que acontecesse.
  • Pensamentos tóxicos sobre a finitude. Uma má relação com a morte, muitas vezes devido ao tabu que existe relativamente a este tema, pode levar a medos que se tornam doentios.
  • Diminuição da libido ou mesmo aparecimento de disfunções sexuais, o que em algumas pessoas pode, por si só, retirar o prazer de viver.
  • Negação do envelhecimento. Sobretudo devido à valorização social da juventude, procura-se esconder a todo o custo os sinais de envelhecimento. Frequentemente, a pessoa começa a preocupar-se com a aparência. Para não se sentir inferiorizada ou desvalorizada, pode gastar “mundos e fundos” em procedimentos estéticos para parecer mais jovem.

Qual a idade considerada como meia-idade

A meia-idade é considerada o ponto médio das nossas vidas. É definida como o ponto médio entre a entrada na vida adulta (vinte e um anos) e a morte.  Atualmente, com a expectativa de vida na faixa dos oitenta anos, o ponto médio encontra-se assim entre os cinquenta e os sessenta anos.

Não obstante, é do senso comum que as crises de meia-idade costumam ocorrer entre os quarenta e os sessenta anos.

Como superar as crises

Para superar uma crise, o fundamental será certamente não se deixar afundar em pensamentos obsessivos. Seguem-se algumas sugestões para dar a volta por cima:

  • Fazer trabalho voluntário numa área que for do seu agrado. Procurar novas atividades e novos hobbies. Pode mesmo e, porque não, dedicar-se a outra profissão. Nunca é tarde de mais. Inegavelmente, uma mudança de vida pode acabar por contribuir para uma vida com significado.
  • Praticar exercício físico e manter-se em movimento. A atividade física promove a produção de hormonas ligadas ao prazer e felicidade, o que contribui para o alívio do stress, da ansiedade e do medo. Certamente que uma simples caminhada diária pode fazer milagres no humor e boa disposição.
  • Adotar uma dieta adequada à nova fase de vida. Mudar de hábitos alimentares, se necessário, ou considerar a toma de suplementos que possam ser benéficos.
  • Ter cuidados com a saúde e procurar ter um sono de qualidade.
  • Manter contacto regular com familiares e amigos. Isolar-se não é uma boa alternativa e está longe de promover a saúde mental. Assim, é muito importante conversar com alguém sobre os nossos sentimentos e preocupações.
  • Manter-se atualizado. E não estou só a referir-me a notícias da atualidade, mas também ao autoconhecimento e ao desenvolvimento pessoal.
  • Procurar ajuda especializada, sempre que for caso disso. Afinal de contas, psicólogos, terapeutas e coaches existem para ajudar em tempos de crise.
Mulher madura, colhendo flores secas na natureza. Pelo seu olhar confiante compreende-se que está longe de estar a passar por crises de meia-idade.

Benefícios ocultos nas crises

Como não podia deixar de ser, nem tudo são espinhos. Uma crise, quer surja na meia-idade ou noutra fase qualquer da vida, pode oferecer os seus benefícios.

Com ou sem crises, alguém disse um dia que a melhor fase da nossa vida é após os cinquenta anos. A partir dessa idade, aprendemos a dar prioridade ao que verdadeiramente é importante. Deixamos de nos preocupar com coisas supérfluas ou com os julgamentos alheios. Frequentemente, a idade torna-nos mais sábios. Da mesma forma, podemos aprender a valorizar a liberdade que a maturidade nos oferece e ainda temos vigor e energia para desfrutar da vida.

Quarenta anos é a velhice dos jovens. Cinquenta anos é a juventude dos velhos.

Victor Hugo

E, por outro lado, o facto de parar para pensar no nosso passado pode fazer com que tomemos consciência do muito que aprendemos e crescemos. Porque a experiência de vida acaba por nos ensinar mais do que todas as universidades do mundo. Os nossos bons e maus momentos, os nossos prazeres e desgostos, as nossas superações – tudo contou para a nossa aprendizagem.

Conclusão

Afinal, as crises de meia-idade são um mito ou realidade? São uma realidade na medida em que é nessa fase específica da vida que se verifica a maior possibilidade de existirem mudanças e perdas, tanto a nível externo como interno. É preciso lidar com o envelhecimento e o aproximar da finitude, o que por si só pode provocar angústia e medo. Contudo, com o aumento da esperança de vida e também com a informação que temos ao nosso dispor na atualidade, a grande maioria de nós não irá sentir grande impacto. Muitos poderão até mencionar ser esta a fase mais gratificante das suas vidas, na medida em que podem desfrutar de liberdade e sabedoria.

No final de contas, podemos sair do processo mais fortes, com mais autoestima e autoconfiança. É uma questão de não ceder à vitimização e de procurar ver o lado bom da vida. E há tanto, em todas as fases da vida, pelo qual estar grato ou grata!

*Helena Martins é Terapeuta e Coach com foco em Propósito de Vida e Transformação Pessoal. Nas suas consultas utiliza ferramentas do Life-Coaching, da Terapia Transpessoal, do Método de Louise Hay e da Psicossomática.

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