Em primeiro lugar, convém destrinçar que existem vários tipos de relacionamentos. Temos por exemplo os relacionamentos familiares, de amizade, profissionais, sociais e amorosos. Neste artigo, vamos debruçar-nos em concreto acerca da amizade. Quando te esforças por preservar uma boa amizade estás inerentemente a cultivar relacionamentos saudáveis.
É difícil manter uma amizade nos tempos atuais
Atualmente verifica-se ser muito difícil manter amizades. Por isso, torna-se comum chegar ao final da vida sem ter amigos por perto ou sem ter amigos de todo. Principalmente nas grandes cidades, é crescente o número de pessoas que optam por se isolar no interior dos seus apartamentos. Frequentemente não acreditam na amizade e nem sequer sabem os nomes dos vizinhos do prédio em que habitam.
Por isso, enquanto seres conscientes, é imperioso que nos questionemos se é assim que pretendemos acabar os nossos dias. Sempre estaremos a tempo de rever as nossas perspectivas de vida e, se for caso disso, definir novos rumos.
Como se constrói e mantém um relacionamento saudável?
A amizade pode ter início nos primeiros momentos em que travamos conhecimento com alguém. Assim, esta primeira fase é de extrema importância pois é nela que se estabelece a identificação, o envolvimento e a confiança. É aqui que nos damos a conhecer, ao mesmo tempo que procuramos conhecer o outro.
Apesar de tudo, para que os laços de amizade se possam estabelecer, é fundamental disposição e tempo para a comunicação, troca de experiências e partilha. É pois esse empenho continuado que faz florescer a amizade.
“Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez a tua rosa tão importante”.
Saint-Exupéry
A manutenção de relacionamentos saudáveis depende evidentemente de ambos os envolvidos, não bastando o esforço de um dos intervenientes. Por outro lado, é necessário investir em tempo de qualidade e saber ouvir e partilhar os desafios e problemas, bem assim como os sucessos.
Da mesma forma, não deves desistir aos primeiros obstáculos de alguém com quem te identificaste. Isto porque é precisamente a superação desses obstáculos que reforça o vínculo de amizade.
Não obstante, deves de estar atento ao que sentes. Se deres por ti a duvidar que essa pessoa seja de confiança, se sentires relutância em partilhar com ela os teus bons e maus momentos, então talvez não valha a pena o investimento em esforço e tempo.
Quem devemos escolher para amigos?
Todos os teus amigos devem desempenhar um papel importante na tua vida. Alguns ficarão para toda a vida, outros ficarão por menos tempo. Não faz mal que seja por pouco tempo. No entanto, por diminuto que possa vir a ser, que esse tempo te acrescente valor. Que daí possa resultar uma lição, uma aprendizagem ou uma boa experiência.
Observa quem que te aceita como és, com as tuas falhas e imperfeições. Observa quem celebra as tuas realizações, se entusiasma com os teus objetivos, te motiva e encoraja a procurar ir mais além, se preocupa com o teu bem-estar e saúde ou faz por estar presente quando mais precisas. Essas são as pessoas que vale a pena manter por perto, sobretudo porque te ajudam a crescer enquanto pessoa..
Se existirem invejas ou ódios no teu círculo de amizades, então não te estás a rodear das pessoas certas. Se alguém torce para que não sejas mais bem-sucedido do que ele próprio, então esse alguém não pode ser considerado teu amigo.
Amizades verdadeiras
Os teus verdadeiros amigos não serão sempre agradáveis. Às vezes podem mesmo dizer-te o contrário do que desejarias ouvir. Por isso são teus amigos. Porque são sinceros e querem o melhor para ti.
Para teres amizades verdadeiras, deves procurar ser seletivo nas tuas amizades. Não precisas de ter uma grande quantidade de amigos. O que interessa, como em tudo na vida, não é a quantidade, mas sim a qualidade.
Aproxima-te de pessoas que tenham valores idênticos aos teus. Não quer dizer que tenham de pensar da mesma maneira do que tu. É até saudável ter-se pontos de vista diferentes. Mas é certamente importante que tenham códigos de ética semelhantes.
Procura relacionar-te com pessoas que despertem em ti a vontade de seres a melhor versão de ti próprio. Com aqueles que te colocam de bem com a vida. Que possuem qualidades e comportamentos que pretendes desenvolver em ti próprio.
Não sei o que mais prezas numa amizade. Eu, por exemplo, valorizo qualidades como o bom humor, a gentileza, a bondade, a capacidade de ouvir sem emitir julgamentos, a lealdade, a autenticidade, a sinceridade, a assertividade e o espírito positivo. E tu, já paraste para pensar que qualidades são mais importantes para ti?
Que competências requer a amizade?
Através de relacionamentos saudáveis, obtemos e geramos apoio psicológico e emocional. Isso acaba por conferir muitos benefícios em termos gerais. Torna-se por isso fundamental que saibamos cultivar boas amizades.
Existem determinadas competências que podem facilitar o estabelecimento de um relacionamento saudável. Estou a falar, por exemplo, da autoestima ou amor próprio, da capacidade de controlar e gerir as emoções, da empatia e capacidade de se conseguir colocar no lugar do outro, de saber ouvir sem emitir julgamentos, da capacidade de negociação, de saber expressar as suas próprias necessidades respeitando as necessidades do outro, da compaixão e da facilidade em perdoar.
Podes avaliar no diagrama que se segue como estão as tuas competências sociais. Se obtiveres um mau resultado, talvez esteja na hora de trabalhares o teu desenvolvimento pessoal.
Benefícios para a saúde da amizade
O ser humano, como ser social que é, tem necessidade de se conectar com os outros. Não existem por isso dúvidas que uma boa rede de amigos contribuí para a nossa saúde e bem-estar. O facto é que a existência de alguém a quem confiar os nossos desafios e dificuldades, os nossos segredos e sonhos, traz-nos um sentimento de positividade e pertença.
Os principais benefícios da amizade para a saúde são os seguintes:
- Aumento dos níveis de felicidade. Isto deve-se ao facto de um relacionamento saudável promover a libertação no organismo de endorfinas ligadas ao prazer, bem-estar e alegria de viver;
- Diminuição dos níveis de stress e ansiedade;
- Aumento da autoestima e autoconfiança;
- Aumento da esperança de vida;
- Menor tendência para a depressão;
- Menor possibilidades de sofrer de doenças psicossomáticas;
- Aumento dos padrões de imunidade;
- Menor propensão para o consumo de álcool, tabaco ou outras substâncias aditivas.
Quando reatar ou dar como terminada uma amizade
Temos que reconhecer que não é fácil manter uma amizade. Múltiplas razões podem existir para suportar essa dificuldade.
- Faltas de atenção ou desrespeito pelas diferenças um do outro;
- Mal-entendidos devido a uma comunicação não eficiente;
- Conflitos mal resolvidos;
- Mentiras e traições;
- Incapacidade de respeitar um segredo;
- Desvalorização das conquistas e sucessos do outro;
- Desinteresse pelas necessidades do outro;
- Intrigas envolvendo terceiros;
- Dar prioridade a outras áreas da vida, como a carreira profissional ou mesmo os deveres familiares.
Seja qual for a razão, o certo é que uma amizade sincera que tinha todo o potencial para perdurar pode acabar por se extinguir num tempo mais ou menos curto.
Se isso acontece contigo, é bom teres presente que nunca é tarde de mais para procurar uma reconciliação. Principalmente se já nem te lembras bem de qual foi o motivo que levou à rutura.
Por outro lado, pode acontecer que estejas a lutar para manter uma amizade antiga que simplesmente deixou de fazer sentido. As pessoas mudam. Não tens de manter um relacionamento simplesmente porque vem de velhos tempos. Se não te traz nada de bom nos dias de hoje, então é porque deixou de poder ser considerado uma amizade. Se o vínculo deixou de fazer sentido, então é preciso deixar ir.
Relacionamentos saudáveis requerem requisitos como o respeito, a atenção, a confiança, a positividade, a cumplicidade e a cooperação. Devem promover o bem-estar para ambas as partes. Se te aperceberes que determinada amizade te faz mais mal do que bem, talvez seja o momento de deixar ir. Relacionamentos ambivalentes têm tendência a tornar-se tóxicos. Se determinada pessoa te faz sentir intimidado, desvalorizado ou incompreendido, deves sempre considerar terminar o vínculo que te une a essa pessoa.
Exercício: Reatar ou terminar um relacionamento?
Se hesitas entre reatar ou não um relacionamento que simplesmente deixou de existir, sugiro-te o seguinte exercício:
- Pega num papel e numa caneta e escreve os pontos positivos dessa amizade. Evoca todos os bons momentos que esta amizade te trouxe.
- Escreve de seguida os pontos negativos dessa amizade. Evoca todos os dissabores, problemas e conflitos que existiram ao longo do tempo.
- Coloca-te as seguintes questões: Porque acabou o relacionamento? Onde falhei? Onde falharam para comigo? Vale a pena continuar? O que é que esta suposta amizade me pode acrescentar? O que posso acrescentar a esta amizade? O que posso esperar desta pessoa? O que é que esta pessoa espera de mim? Consigo corresponder às suas expetativas?
Tomar o primeiro passo, respeitando o outro
Após esta reflexão, se decidires que gostarias de reatar a amizade, podes querer tomar o primeiro passo. Entra em contacto com essa pessoa e convida-a para uma conversa esclarecedora. Procura marcar um encontro e abrir-te ao diálogo. Nesse encontro, procura expor claramente os teus argumentos. Da mesma forma, esforça-te por ouvir e compreender os argumentos da outra pessoa.
Convém ter presente que a outra pessoa pode não querer reparar o relacionamento. A amizade, como foi dito, não é unilateral. Se para ti fizer sentido, deves esforçar-te para reatar uma amizade que consideras promissora. Contudo, tens de respeitar a decisão da outra pessoa, que pode não ser idêntica à tua.
O que fazer para ter relacionamentos saudáveis
Seguem-se algumas sugestões para poderes beneficiar de relacionamentos saudáveis:
- Em primeiro lugar, deves de investir em ti próprio. Conhece-te a fundo, procura saber quais as tuas reais necessidades. Conhece os teus valores e procura não abdicar desses valores. Respeita quem és.
- Promove o teu equilíbrio emocional, curando feridas do passado que possam existir.
- Torna-te independente e autossuficiente, tendo plena noção que ninguém existe para preencher as tuas necessidades enquanto adulto saudável.
- Assume plena responsabilidade pela tua vida.
- Respeita as diferenças dos outros. Mesmo os melhores amigos divergem em algum ponto, contigo não vai ser diferente.
- Coloca-te sempre no lugar dos outros. Preocupa-te com as suas histórias e formas de interpretar a vida. Chama-se a esse exercício de empatia.
- Valoriza um diálogo sincero e eficaz. Se for preciso, adquire ferramentas de comunicação.
- Respeita o estado de consciência de cada pessoa com que te cruzas. Nem todas as pessoas estão na mesma sintonia que tu ou servirão para fazer parte do teu círculo de amigos. Simplesmente afasta-te dessas pessoas ou deixa-as afastarem-se por elas próprias.
- Pensa várias vezes antes de apontar o dedo a alguém ou tecer críticas destrutivas. Se pensares várias vezes, vais perder a vontade de emitir julgamentos e juízos de valor.
Estes tópicos servem para melhorar todos os tipos de relacionamento e não somente as amizades. No final, faz por valorizar e honrar todos os que te procuram e compartilham bons momentos contigo. Essas pessoas, mesmo que não se tornem propriamente amigos, podem contribuir para o teu bem-estar e crescimento.
*Helena Martins é Terapeuta e Coach com foco em Propósito de Vida e Transformação Pessoal. Nas suas consultas utiliza ferramentas do Life-Coaching, da Terapia Transpessoal, do Método de Louise Hay e da Psicossomática.