A importância do recolhimento

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Helena Martins

Será que o recolhimento faz algum sentido nos dias de hoje? Ou será que se trata de um simples pretexto para fugir às responsabilidades e compromissos? Este artigo pretende responder a essa questão e a muitas outras que habitualmente se colocam.

Recolhimento para recuperar o equilíbrio

Vivemos a um ritmo extremamente movimentado, podemos mesmo dizer frenético, onde toda a nossa energia é requerida no exterior. Como resultado, vamos acumulando cansaço e stress. O pior é que perdemos a sintonia com nós mesmos e sujeitamo-nos a problemas como o burnout e a depressão. Crises de angústia, ansiedade e desespero são uma constante nos tempos atuais.

Neste contexto, o recolhimento pode surgir como uma oportunidade de descompressão e reposição de energias. Mas mais do que isso permite-nos recuperar o equilíbrio entre corpo, mente e espírito.

De igual forma, os períodos de recolhimento permitem-nos silenciar momentaneamente o exterior para podermos então mergulhar no nosso interior. Cortamos assim com o excesso de informação que nos sobrecarrega a nível mental e esse corte abre espaço para o sentir. Pode então dar-se a reconexão com a nossa parte intuitiva e espiritual.

Jovem monge a meditar, em analogia com o recolhimento e a reconexão espiritual

Compromisso connosco próprios

Então, não se trata de fugir de responsabilidades e compromissos. Na realidade, é mais o seu contrário; é saber honrar o compromisso mais importante e sagrado que podemos ter na vida: o compromisso connosco próprios.

Antes de mais, a introspeção facilitada pelo recolhimento permite-nos colocar as ideias em ordem e definir prioridades. Ajuda-nos a ver as nossas circunstâncias de vida de uma nova perspetiva. Podemos dessa forma tomar decisões mais assertivas, melhorando o que está mal ou precisamos de mudar.

De igual forma, damos a nós mesmos a oportunidade de repensar crises pessoais, conflitos nos relacionamentos ou problemas na área profissional. Ao dar-nos essa oportunidade, podemos até acabar por valorizar pessoas e pontos positivos que temos na nossa vida e dos quais anteriormente nem nos apercebíamos.

Quando esvaziamos a mente e nos conectamos com a nossa parte intuitiva e sábia, conseguimos encontrar soluções aparentemente sem esforço. Podemos resolver problemas que antes nos roubavam a paz e que julgávamos sem saída.

Abrir espaço para a reconexão

Em última instância, a autoanálise e contemplação que surgem no recolhimento oferecem-nos possibilidades de autoconhecimento, crescimento e expansão de consciência. Podemos encontrar um sentido para a vida ao descobrir os nossos talentos e capacidades, sonhos, paixões, valores e propósito de vida.

Retirar-se do mundo em recolhimento não é exclusivo de pessoas crentes. Não precisamos de pertencer a determinada religião ou possuir quaisquer ideologias esotéricas. Esta é uma experiência vital de paragem, recarga de energia e reflexão que todos os seres humanos deveriam poder desfrutar com regularidade.

Assim, é necessário que aprendamos a desligar-nos do mundo e simplesmente ficar em silêncio, em comunhão com essa parte sábia que sabe o que é melhor para nós e para os outros. Só precisamos de abrir espaço para que se dê essa reconexão.

Formas de recolhimento

Existem várias formas de recolhimento.

  • Podemos passar alguns dias num mosteiro e integrar-nos em atividades de fé.
  • Podemos participar em retiros, geralmente em grupos organizados e envolvendo práticas de reflexão e meditação ou mindfulness.
  • Ou podemos simplesmente isolar-nos num sítio sossegado, de preferência na natureza, para em silêncio refletir e meditar. Neste último caso precisamos de ter mais disciplina e autocontrolo, uma vez que estaremos por nossa própria conta.

Mulher na natureza, em postura de meditação, apelando ao isolamento e recolhimento para reflexão.

Obviamente não podemos virar costas às nossas rotinas nas alturas em que mais falta fazemos, quer seja na área familiar, profissional ou escolar. A melhor altura para o recolhimento será em férias ou fins-de-semana, quando temos tempo livre para focar em nós e nas nossas necessidades.

Finalmente, podemos optar pelo recolhimento de uma forma regular, como se se tratasse de uma manutenção vital para o nosso bem-estar, ou quando nos sentimos cansados e confusos, em conflito interno ou com o mundo. O objetivo maior será sempre encontrar-nos a nós mesmos e garantir o equilíbrio mental e emocional.

*Helena Martins é Terapeuta e Coach com foco em Propósito de Vida e Transformação Pessoal. Nas suas consultas utiliza ferramentas do Life-Coaching, da Terapia Transpessoal, do Método de Louise Hay e da Psicossomática.

Artigo publicado na revista Progredir de março 23

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