Será que o recolhimento faz algum sentido nos dias de hoje? Ou será que se trata de um simples pretexto para fugir às responsabilidades e compromissos? Este artigo pretende responder a essa questão e a muitas outras que habitualmente se colocam.
Recolhimento para recuperar o equilíbrio
Vivemos a um ritmo extremamente movimentado, podemos mesmo dizer frenético, onde toda a nossa energia é requerida no exterior. Como resultado, vamos acumulando cansaço e stress. O pior é que perdemos a sintonia com nós mesmos e sujeitamo-nos a problemas como o burnout e a depressão. Crises de angústia, ansiedade e desespero são uma constante nos tempos atuais.
Neste contexto, o recolhimento pode surgir como uma oportunidade de descompressão e reposição de energias. Mas mais do que isso permite-nos recuperar o equilíbrio entre corpo, mente e espírito.
De igual forma, os períodos de recolhimento permitem-nos silenciar momentaneamente o exterior para podermos então mergulhar no nosso interior. Cortamos assim com o excesso de informação que nos sobrecarrega a nível mental e esse corte abre espaço para o sentir. Pode então dar-se a reconexão com a nossa parte intuitiva e espiritual.
Compromisso connosco próprios
Então, não se trata de fugir de responsabilidades e compromissos. Na realidade, é mais o seu contrário; é saber honrar o compromisso mais importante e sagrado que podemos ter na vida: o compromisso connosco próprios.
Antes de mais, a introspeção facilitada pelo recolhimento permite-nos colocar as ideias em ordem e definir prioridades. Ajuda-nos a ver as nossas circunstâncias de vida de uma nova perspetiva. Podemos dessa forma tomar decisões mais assertivas, melhorando o que está mal ou precisamos de mudar.
De igual forma, damos a nós mesmos a oportunidade de repensar crises pessoais, conflitos nos relacionamentos ou problemas na área profissional. Ao dar-nos essa oportunidade, podemos até acabar por valorizar pessoas e pontos positivos que temos na nossa vida e dos quais anteriormente nem nos apercebíamos.
Quando esvaziamos a mente e nos conectamos com a nossa parte intuitiva e sábia, conseguimos encontrar soluções aparentemente sem esforço. Podemos resolver problemas que antes nos roubavam a paz e que julgávamos sem saída.
Abrir espaço para a reconexão
Em última instância, a autoanálise e contemplação que surgem no recolhimento oferecem-nos possibilidades de autoconhecimento, crescimento e expansão de consciência. Podemos encontrar um sentido para a vida ao descobrir os nossos talentos e capacidades, sonhos, paixões, valores e propósito de vida.
Retirar-se do mundo em recolhimento não é exclusivo de pessoas crentes. Não precisamos de pertencer a determinada religião ou possuir quaisquer ideologias esotéricas. Esta é uma experiência vital de paragem, recarga de energia e reflexão que todos os seres humanos deveriam poder desfrutar com regularidade.
Assim, é necessário que aprendamos a desligar-nos do mundo e simplesmente ficar em silêncio, em comunhão com essa parte sábia que sabe o que é melhor para nós e para os outros. Só precisamos de abrir espaço para que se dê essa reconexão.
Formas de recolhimento
Existem várias formas de recolhimento.
- Podemos passar alguns dias num mosteiro e integrar-nos em atividades de fé.
- Podemos participar em retiros, geralmente em grupos organizados e envolvendo práticas de reflexão e meditação ou mindfulness.
- Ou podemos simplesmente isolar-nos num sítio sossegado, de preferência na natureza, para em silêncio refletir e meditar. Neste último caso precisamos de ter mais disciplina e autocontrolo, uma vez que estaremos por nossa própria conta.
Obviamente não podemos virar costas às nossas rotinas nas alturas em que mais falta fazemos, quer seja na área familiar, profissional ou escolar. A melhor altura para o recolhimento será em férias ou fins-de-semana, quando temos tempo livre para focar em nós e nas nossas necessidades.
Finalmente, podemos optar pelo recolhimento de uma forma regular, como se se tratasse de uma manutenção vital para o nosso bem-estar, ou quando nos sentimos cansados e confusos, em conflito interno ou com o mundo. O objetivo maior será sempre encontrar-nos a nós mesmos e garantir o equilíbrio mental e emocional.
*Helena Martins é Terapeuta e Coach com foco em Propósito de Vida e Transformação Pessoal. Nas suas consultas utiliza ferramentas do Life-Coaching, da Terapia Transpessoal, do Método de Louise Hay e da Psicossomática.
Artigo publicado na revista Progredir de março 23