De uma forma geral, podemos dizer que crenças são meras pressuposições que todos nós temos acerca de quem somos e do que é ou não é a realidade. São, geralmente, formuladas em voz passiva e representam uma generalização. Podem funcionar como pontes ou como obstáculos. Podemos assim dizer que crenças limitantes são todas aquelas que atrapalham a nossa existência, afastando-nos dos nossos objetivos.
Quando surgem as crenças
As crenças começam a estruturar-se na primeira infância, digamos que até aproximadamente aos sete anos de idade. Experiências pessoais posteriores vão modificando ou reforçando essas crenças ao longo da vida.
As crenças podem ser herdadas do nosso ambiente familiar ou social. Mensagens positivas ou negativas acerca de tópicos como o dinheiro, amizade, amor, sucesso ou trabalho são-nos a toda a hora transmitidas. Com toda essa repetição, é quase impossível que não comecemos também a acreditar nelas.
O problema é que tanto assimilamos como verdades absolutas as crenças positivas como as crenças limitantes. O que quer dizer que essas crenças tanto podem fazer de nós alguém destinado a vencer como destinado a fracassar ou viver aquém das nossas possibilidades.
Tipos de crenças
As crenças são classificadas segundo três tipos específicos:
Hereditárias
São as crenças adquiridas na infância e transmitidas pela família biológica ou adotiva. Aqui se destacam os progenitores ou cuidadores como principais transmissores. Salvo raras exceções, os filhos tendem a possuir a mesma forma de pensar dos seus pais ou familiares.
Pessoais
Podem ser quaisquer crenças que fazem parte da nossa essência e que formam a base do nosso estilo de vida. São sobretudo criadas ao longo do tempo, a partir das nossas próprias experiências e vivências. Apesar de poderem ter sido transmitidas pela família ou pela sociedade, devido ao facto de as vivenciarmos, estas vão-se tornar para nós verdades absolutas. São, por isso, muito difíceis de modificar.
Sociais
São oriundas do meio, da comunidade ou da cultura a que pertencemos. São adquiridas através das interações sociais, da comunidade escolar e religiosa, dos grupos de trabalho e também dos conteúdos que consumimos. Daí a importância dos livros que lemos, dos filmes ou programas televisivos a que assistimos ou da música que ouvimos.
As crenças condicionam a nossa vida?
As crenças não só podem condicionar como na verdade acabam por determinar a nossa vida.
Por estarem ao nível do inconsciente, muitas vezes não temos sequer noção que são as crenças a determinar as nossas respostas. Contudo, sem sombra de dúvida que influenciam, direta ou indiretamente, tanto os nossos comportamentos como todas as nossas escolhas e decisões.
Quando é que as crenças se tornam limitantes?
Há quem defenda que todas as crenças, quer sejam positivas ou negativas, são na prática limitantes. Baseiam-se no facto de estas não passarem de ideias generalizadas sobre algum assunto. Não sendo validadas pela ciência, carecem de evidência e podem ser refutadas.
Contudo, acredito que existem crenças úteis, sobretudo quando nos ajudam a ir em frente e realizar feitos que de outra forma não realizaríamos. Tornam-se limitantes quando nos bloqueiam e limitam, atrapalhando a nossa progressão.
As crenças primárias e a sua importância
As crenças primárias assentam sobre três pilares: o SER (Identidade), o FAZER (Capacidade) e o TER (Merecimento).
Crenças de identidade
As crenças de identidade referem-se à perceção que temos acerca de nós próprios e do nosso valor. Projetamos para o mundo aquilo que acreditamos ser. Se nos apercebemos como alguém sem valor, temos tendência a colocar-nos numa posição de inferioridade perante os outros. Não vamos cuidar das nossas necessidades nem lutar por projetos que nos fariam crescer e evoluir.
As crenças de identidade têm a ver com o respeito e dignidade que sentimos por nós próprios enquanto seres humanos, excluindo tudo o que nos é exterior, como a casa em que vivemos, o carro, as roupas ou o dinheiro que possuímos.
Muitas vezes ouvimos alguém dizer: “Sou só um motorista” ou “Sou só um humilde funcionário, não posso fazer nada”. Aqui temos patente a crença sobre identidade, na medida em que vai determinar as ações e comportamentos dessa pessoa.
Um motorista ou um funcionário que se conheça interiormente, se valorize enquanto ser humano e que procure dar o melhor de si, jamais se colocará ou permitirá ser colocado em posição de inferioridade. Irá dar uma resposta à medida das suas capacidades. A verdade é que todos nós, independentemente do papel que desempenhemos na sociedade, podemos dar o nosso contributo e fazer a diferença. Para isso precisamos SER, valorizando-nos e sabendo usar o nosso potencial.
Crenças de capacidade
As crenças de capacidade remetem para o nosso senso de aptidão, para o que acreditamos ser ou não capazes de fazer.
Quando não acreditamos que somos capazes, acabamos por limitar as possibilidades de sucesso. Uma coisa é não nos dedicarmos a determinada atividade por escolha própria, outra coisa completamente diferente é não o fazermos por acreditarmos que não vamos ser capazes.
Porque é que acontece essa sensação de não sermos capazes? A maior parte das vezes é porque temos medo de errar, medo de sofrer humilhações, medo do que os outros vão pensar acerca de nós. Esse medo prende-nos a um lugar de estagnação e fracasso.
Mas a verdade é que ninguém nasce ensinado ou capacitado. Quando acreditamos que somos capazes, quando nos dispomos a aprender e a errar as vezes que forem necessárias até dar certo, então é só uma questão de tempo até sermos capazes de fazer seja o que for.
Crenças de merecimento
As crenças de merecimento referem-se ao que acreditamos nos ser devido. Tem muito a ver com sensação de justiça e de coerência. Quando damos o nosso melhor e trabalhamos para que determinada coisa aconteça na nossa vida, é natural que no fim nos sintamos merecedores de obter essa coisa. Afinal, seria injusto não colher o que semeámos com tanto esforço.
Assim, este senso de merecimento acaba por ser em grande parte uma consequência das crenças anteriores. Quando nos valorizamos e acreditamos nas nossas capacidades, partindo para a ação, então torna-se fácil acreditar que merecemos alcançar o que desejamos.
Quando as três crenças primárias se encontram alinhadas e satisfeitas, a realização acontece. Não há como não acontecer. É preciso reconhecermos o nosso valor, acreditarmos que somos capazes de fazer e alcançar seja o que for e que somos merecedores de um bom resultado. O que desejamos seguir-se-á.
Por outro lado, se por qualquer motivo não nos sentirmos merecedores disso que desejamos, mesmo que consigamos reconhecer o nosso valor e capacidade, então nada feito. Vamos acabar por autossabotar o nosso próprio sucesso.
As crenças primárias precisam de estar positivamente ativadas no nosso interior. E a boa notícia é que mesmo que tenhas crenças limitantes, sejam elas de identidade, de capacidade ou de merecimento, podes a qualquer altura mudar a tua forma de pensar.
Basta-te uma nova programação mental. Se trabalhares para instalar crenças que te empoderem, podes criar as condições necessárias ao sucesso.
É a repetição de afirmações que leva à crença. E uma vez que a crença se torna uma convicção profunda, as coisas começam a acontecer.
Muhammad Ali
Por isso se torna muito importante passar por um processo de autoconhecimento onde compreendamos quem somos na nossa essência, quais os nossos talentos e qual o nosso propósito de vida.
Quais são as crenças limitantes mais comuns
Tornar-se-ia exaustivo listar todas as crenças limitantes que fazem parte do nosso imaginário coletivo que é fértil e, por vezes até contraditório. A título de exemplo, poderíamos considerar:
- “Não tenho tempo ou dinheiro”
- “Já sou velho para começar”
- “Sou muito novo para isso”
- “Isso é impossível de fazer”
- “Os outros são melhores do que eu”
- “Não tenho sorte”
- “Nasci pobre e vou morrer pobre”
- “Não é para os meus dentes”
- “O dinheiro é a raiz de todos os males”
- “Sem dor não há ganho”
- “Trabalhar é uma seca”
- “Sou pobre, mas honrado”
- “O dinheiro é sujo e corrompe”
- “Burro velho não aprende línguas”
- “Mais vale infeliz e acompanhado, do que abundante e sozinho.”
Alguma destas frases te soa familiar? Em quais delas acreditas verdadeiramente?
A fiabilidade das crenças limitantes
A questão mais importante passa por te assegurares que as crenças que tens são de facto verdadeiras. Faz uma lista com todas as crenças limitantes que conseguires, analisa cada uma delas e responde às questões abaixo:
- Isso é mesmo verdade?
- Em que momento comecei a acreditar nisso?
- Isso é meu ou aprendi através de outra pessoa? De quem?
- Como seria eu se eu não acreditasse nisso?
- Como seria a minha vida se eu não acreditasse nisso?
Não aceites aquilo que ouves relatar, não aceites a tradição, não aceites uma afirmação só porque ela está nos nossos livros, nem porque está de acordo com tua crença ou porque foi dita pelo teu mestre. Sê uma lâmpada para ti mesmo.
Sidarta Gautama (Buda)
Pesquisa, focaliza-te em exemplos de vida, vê biografias de pessoas que tiveram sucesso e procura saber em que diferem as crenças dessas pessoas com as tuas.
Se, por exemplo, acreditas que não consegues alcançar determinado objetivo, pensa: “Não consigo mesmo alcançar esse objetivo ou o que acontece é que realmente nunca tentei e me esforcei para o alcançar?” Essa pergunta pode fazer toda a diferença, acredita.
*Helena Martins é Terapeuta e Coach com foco em Propósito de Vida e Transformação Pessoal. Nas suas consultas utiliza ferramentas do Life-Coaching, da Terapia Transpessoal, do Método de Louise Hay e da Psicossomática.