Este é um tema muito atual nos dias de hoje. E, talvez por ter sido abordado por múltiplas perspectivas, acabou por dar origem a alguma confusão. Não obstante, julgo ser do consenso geral que propósito de vida está ligado ao que nos causa paixão e realiza. É algo para o qual somos competente e temos talento. Por isso, quando vivemos segundo um propósito, não damos pelo tempo a passar. Atingimos o chamado estado de flow e é como se estivessemos a operar através de uma outra dimensão.
O que é o Propósito de Vida
Se bem que para a maior parte das pessoas, tenha a ver com o trabalho exercido, para algumas outras pode tratar-se simplesmente de um determinado estilo ou projeto de vida. De uma forma ou de outra, não tem necessariamente de resultar em algo grandioso ou significativo para o mundo.
O teu Propósito de vida está enraizado na tua essência e identidade. É aquilo que te faz ser diferente. É o que transforma a tua vida para melhor. E, por arrasto, é o que transforma a vida dos que estão ao teu redor. Ou seja, é o legado que precisas deixar no mundo.
Por isso, o teu Propósito de vida tem tudo a ver com o serviço que entregas aos outros, quer seja a sociedade, uma instituição, empresa ou mesmo a família. Basta-te que estejas a entregar o melhor que tens em ti. Por conseguinte, nesse serviço que entregas, têm de estar presentes as tuas capacidades e os teus dons. Acima de tudo, tem de estar presente o amor, ou melhor, tens de te tornar no próprio amor enquanto o realizas.
Qual a importância de ter um propósito de vida
Ter um propósito de vida mais não é do que ter uma direção, um norte. Em suma, funciona como uma espécie de guia que nos orienta ao longo do caminho e nos mostra os passos que temos de dar. Através dele, a vida torna-se mais leve. Do mesmo modo, ganhamos motivação, entusiasmo e energia. Logo, a vida ganha sentido e significado. E isso contribui necessariamente para a nossa saúde e bem-estar.
No lado inverso, alguém sem propósito é alguém sem rumo. Convive com uma sensação constante de frustração e vazio existencial. Muitas pessoas sentem-se tristes e deprimidas porque não conseguem encontrar motivos para continuar a viver. Geralmente descrevem a vida como algo repetitivo e gasto e sentem não ter uma vida com significado. E isso deve-se exatamente a não ter um Propósito pelo qual lutar.
Metáfora da Catedral
Nada melhor do que uma metáfora, para ilustrar este tema e as suas implicações.
Era uma vez um viajante que ao chegar a uma terra distante se deparou com uma obra em princípios de construção. Nela trabalhavam três pedreiros.
O viajante aproximou-se dos homens e perguntou a um deles o que estava a fazer. O homem, com um semblante de dor e sofrimento, respondeu rudemente que estava a colocar pedras. Aproveitou para reclamar das más condições e das dificuldades do trabalho que lhe causavam dores constantes.
Não satisfeito, o nosso viajante colocou a mesma pergunta ao segundo homem. Este respondeu que estava a ganhar a sua vida. Confessou que estava conformado porque ao final do dia levava o sustento para a sua família. Mas era visível que não estava realizado e que o seu trabalho era encarado somente como uma obrigação.
O viajante falou então com o terceiro homem. Na realidade, ele queria muito saber que obra nasceria ali, naquele amplo espaço. O trabalhador, com um brilho enorme nos olhos, não tardou em responder-lhe. Com vigor e orgulho, afirmou que estava a construir uma Catedral. Explicou ainda que se sentia feliz por poder participar num grandioso empreendimento que seria um legado para as gerações vindouras. Os seus dois colegas encolheram os ombros e continuaram a partir e colocar pedras.
Três pedreiros, três visões diferentes
Ora, como todos nós somos construtores da nossa própria vida, será útil refletirmos sobre com qual destas respostas nos identificamos.
1) Simplesmente insatisfeitos, a executar o nosso trabalho mecanicamente. Dia após dia, passando de tarefa em tarefa, desinteressados da visão final do que estamos a fazer. Reclamando por tudo e por nada.
2) Não realizados, apesar de conformados com a nossa sorte. Ou seja, tal como no caso anterior, a trabalhar simplesmente para ganhar o ordenado ao fim do mês.
3) Sentindo orgulho e paixão pelo que que fazemos. Realizando o nosso trabalho com afinco e dedicação. Sentindo motivação e entusiasmo renovado.
No final, o que andamos a fazer? Estaremos a participar ativamente na construção da grandiosa Catedral que simboliza a nossa própria vida?
“Escolhe um trabalho que gostes e não terás de trabalhar nem um dia da tua vida”
Confúcio
Como descobrir o propósito de vida
Descobrir o Propósito de Vida requer trabalho de introspeção e autoconhecimento. E isso não se realiza de um dia para o outro, nem tão pouco se consegue descrever em poucas linhas. Posso, talvez, dar-te um pequeno vislumbre ao apresentar-te o Ikigai.
O Ikigai
Ikigai é uma palavra japonesa que significa “razão de viver” ou “força motriz para viver”. De acordo com os japoneses, todas as pessoas têm um Ikigai. É somente necessário descobrir qual é.
Para encontrar o Ikigai, são propostas quatro perguntas. Ao reunir as respostas, teremos a solução. Precisamos ainda de encontrar um equilíbrio estre todas elas.
As quatro perguntas do Ikigai
- O que é que gostas de fazer? – Faz uma lista, de preferência em papel, com tudo o que gostas de fazer. Neste ponto deves colocar mesmo tudo o que gostas de fazer, ainda que algumas coisas te possam parecer insignificantes. Se pudesses, o que farias todos os dias da tua vida?
- O que é que fazes bem feito? – Das atividades que listaste, quais delas fazes muito bem? Em quais sentes que tens uma certa habilidade inata? O que é que fazes e é elogiado pelos outros? Por vezes, não valorizamos os nossos talentos, porque são algo que simplesmente sai e não requer esforço da nossa parte. É como se partíssemos do princípio que todas as outras pessoas têm em si esses talentos, o que obviamente não corresponde à verdade.
- Por quais dessas atividades poderias ser pago? – Escolhe as atividades que gostas de fazer, que fazes bem e para as quais poderias muito bem ser pago. Mesmo que nunca tenhas pensado cobrar por essas coisas, considera agora formas de as melhorar, apresentar e precificar.
- O que o mundo precisa? – Das atividades que se enquadram nos três pontos acima, escolhe agora aquelas que sabes que o mundo precisa. O que escolheres tem de acrescentar valor ao mundo. Tem de preencher uma necessidade específica.
Ao terminares de responder a estas perguntas, terás encontrado o teu Ikigai, o que tem uma forte correspondência com o Propósito de Vida.
Perguntas de reflexão
Se estás mesmo determinado a descobrir qual o teu Propósito de vida, deixo-te aqui algumas perguntas que te podem igualmente ser úteis. Demora o tempo que for preciso a responder e sê honesto nessas respostas.
- Sentes entusiasmo com a vida que tens presentemente?
- De que forma é que aquilo que fazes profissionalmente afeta ou interfere com a tua vida pessoal, familiar ou de amizades?
- O que gostas de fazer como hobbies? Colecionas alguma coisa? Crias ou constróis alguma coisa?
- O que gostavas mais de fazer quando eras criança?
- O que gostarias de fazer todos os dias da tua vida, se não precisasses de ganhar dinheiro?
- Quem são as personalidades ou pessoas que mais admiras e te inspiram? Porquê?
- Em que lugar te encontras, relativamente à pessoa que gostarias de ser?
- O que o coração te impele a fazer agora?
- Precisas de mudar de direção? E que direção seria essa?
- Como podes trazer valor à vida das outras pessoas?
Como viver segundo o teu propósito
Depois de fazeres o trabalho interno necessário para identificar qual o teu Propósito de Vida, precisas de o materializar, ou seja, de transformar essa tua visão em realidade. Esta pode ser uma etapa complicada. Por um lado, pode acontecer que a tua visão te pareça muito difícil ou mesmo impossível de realizar. Por outro lado, pode parecer que está tudo muito distante.
No entanto, não te assustes porque é normal que isso aconteça. Precisas de construir a ponte que te vai ligar ao ponto que pretendes. Esse processo é moroso e requer persistência, mas tem de ser feito.
Estrutura a considerar
- Numa folha de papel, cria duas colunas. Numa coloca as vantagens que terás quando viveres segundo o teu Propósito. Na outra, coloca as desvantagens. No final, as vantagens têm de ser superiores às desvantagens. Caso contrário, não vale a pena continuares este trabalho pois não terás ainda encontrado o teu propósito;
- Conversa com pessoas que já alcançaram o que queres para ti. Ou procura livros e informações que estes tenham partilhado com o mundo. Isso pode dar-te pistas valiosas dos passos que precisas dar;
- Identifica tudo o que precisas de fazer para alcançar esse propósito. Define as tuas metas;
- Divide essas metas em pequenos objetivos que podes ir realizando ao longo do tempo. Estabelece os prazos de execução para cada objetivo;
- Cria um “Vision Board” ou coloca imagens que te relembrem do teu propósito em locais visíveis da tua casa ou escritório;
- Sê persistente e não desistas ao primeiro obstáculo. Vais precisar de determinação e disciplina. Por vezes, quando acumulamos funções, temos de prescindir de horas de sono e de lazer. Não obstante, quando é para o bem maior, acaba por valer a pena o sacrifício. De qualquer forma, determina momentos de pausa e celebra cada vitória que vás tendo;
O que fazer para viveres segundo o teu propósito
Para viveres segundo o teu propósito, é essencial que saibas quem és, quais são os teus valores e o que te motiva e realiza. Da mesma forma, é importante que sigas os teus sonhos pois estes são peça-chave para identificar qual o teu propósito.
Frequentemente, muitas pessoas pensam que quando se estiver a viver segundo o seu propósito de vida, todos os problemas vão desaparecer. Ou que ficaremos para sempre em estado de “graça”. Contudo, isso não é verdade porque os desafios vão existir sempre. Por conseguinte, vais ter de realizar determinadas tarefas que não gostas de executar mas que são necessárias e contribuem para o teu crescimento. Vais passar por decepções e frustrações e muitas vezes vais ter vontade de desistir. Contudo, garanto-te que no dia seguinte te vais levantar com energias renovadas. E vais começar tudo de novo. Porque no teu interior sentes que é esse o teu caminho.
Crescimento e amadurecimento
No final, o propósito de vida de todos nós, apesar de ser diferente de pessoa para pessoa, passa por ser o crescimento e amadurecimento. Todas as experiências que tiveste, toda a tua história, já fazem parte do teu propósito de vida. Este esteve sempre presente em ti e tu não sabias.
Lembra-te sempre que o teu propósito de vida te direciona para a entrega de um serviço. Ou seja, precisas de dar ao mundo o melhor que tens em ti. Precisas de entregar amor. Deves, por isso, refletir se estás preparado para essa entrega.
- Resolveste todas as tuas feridas emocionais?
- Aceitaste o teu passado e a tua história?
- Perdoaste a todas as pessoas que tinhas de perdoar, inclusive a ti próprio?
- Estás de bem com a vida e contigo próprio?
Se sentes que está na hora de iniciar ou aprofundar um processo de desenvolvimento pessoal, agenda consulta comigo aqui. Será um privilégio poder acompanhar-te.
*Helena Martins é Terapeuta e Coach com foco em Propósito de Vida e Transformação Pessoal. Nas suas consultas utiliza ferramentas do Life-Coaching, da Terapia Transpessoal, do Método de Louise Hay e da Psicossomática.