Será mesmo verdade tudo aquilo em que acreditas?

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Helena Martins

Do latim “veritas”, a palavra verdade aponta para aquilo que é sincero, que é verdadeiro, que é autêntico, que é correto, que é certo, que está dentro da realidade. O seu oposto será, então, a mentira ou a ilusão.

A subjetividade da verdade

Temos tendência a acreditar naquilo que aparece publicado ou é divulgado pelos órgãos de comunicação social. Contudo, será que toda a informação que nos transmitem se reveste de veracidade?

Em tempo algum da história a humanidade teve acesso a tanta informação. Infelizmente, nem sempre informação é sinónimo de conhecimento devidamente validado.

Pelas mais diversas razões, existe muita manipulação. E é mesmo frequente encontrarmos informações contraditórias. Só porque leste alguma coisa na internet ou num livro, isso não faz com que seja verdade absoluta. Verdades podem ser afinal somente meias-verdades. E mentiras podem ser descaradamente apresentadas como verdades inquestionáveis.

Basta refletirmos acerca da subjetividade da verdade em si. O que muitas vezes é verdade em determinadas circunstâncias, pode não o ser em circunstâncias diferentes. E o que uma determinada pessoa interpreta como sendo verdade, outra pessoa pode interpretar como sendo mentira.

As “fake news”

É um facto que existe muita mentira divulgada como sendo verdade. É o caso das chamadas “fake news” ou notícias falsas que têm vindo a crescer ao longo dos últimos tempos.

Jovem mulher olhando para o telemóvel com cara de espanto, sugerindo estar perante informação que não corresponde à verdade.

Este tipo de notícia é produzido com a intenção de enganar ou deturpar. Algumas vezes pretende-se obter vantagens financeiras ou políticas, outras vezes procura-se fazer alguém ou alguma instituição cair em descrédito, outras vezes ainda pretende-se semear a desinformação e legitimar certas ideologias.

As “fake news” geralmente contêm um apelo emocional tão forte, que as pessoas sentem o impulso de as partilhar de imediato nas redes sociais.

Por isso, devemos sempre questionar qualquer informação ou notícia, mesmo que tenha sido divulgada por alguém que conhecemos e valorizamos.

Eis algumas questões que podemos colocar-nos antes de considerar a partilha:

  • Qual a fonte da informação? Essa fonte é credível?
  • Quem foi o autor dessa mensagem?
  • Qual a sua data de publicação?
  • A notícia, no seu todo, corrobora com o título?
  • Ao pesquisar na internet, surgem outras fontes divulgando essa mesma notícia? E essas fontes são fiáveis?

Multiplicidade de culturas

Os seres humanos sempre tiveram costumes, leis, crenças e religiões diferentes. E cada grupo, ao ter determinado costume, tem tendência a considerá-lo correto, chegando a menosprezar os costumes dos outros.

Por mais ridícula, injusta ou ultrapassada que uma ideologia possa parecer a determinada comunidade, certamente existirá uma outra comunidade que a defenda e adote. Sem querer emitir qualquer juízo de valor, poderia citar, por exemplo, o uso do véu islâmico que desperta opiniões divergentes por todo o mundo. Obrigatório no Irão, é proibido nos lugares públicos em alguns países da Europa.

Toda uma multiplicidade de costumes e ideologias deve-se não apenas a crenças, educação, instrução ou religião. É do senso comum que enquanto existirem dois seres humanos ao cimo da terra, existirá também conflito de opiniões. E esses dois seres humanos podem ter crescido juntos e ter tido as mesmas experiências de vida.

Aqui chegados, talvez possamos chegar a conclusão que o mais sensato possa ser aceitar as divergências e suspender os julgamentos. Porque o que parece certo para uns, será sempre errado para outros.

Ceticismo e dúvida nas verdades absolutas

O termo cético vem da palavra grega “skepsis”, que significa “investigação”. Podemos assim dizer que uma pessoa cética não é alguém que não acredita em nada, mas sim alguém que examina as suas crenças e as dos outros. Consegue dessa forma averiguar se essas crenças são verdadeiramente dignas de crédito ou não.

O fundador do ceticismo foi Pirro de Elis, que viveu entre 360 e 270 a.C. Segundo este filósofo, não podemos ter posições definitivas sobre seja que assunto for, uma vez que mesmo pessoas muito sábias podem ter posições absolutamente opostas sobre determinado tema.

Atualmente, alguns céticos defendem a impossibilidade de declarar uma verdade como absoluta. Consideram as limitações do ser humano e definem a realidade como sendo amplamente complexa.  Sugerem que tratemos as nossas crenças sempre como provisórias e não definitivas.

Isso não significa que se deva duvidar de tudo. Montaigne sugeria até que nos harmonizássemos com os costumes culturais da comunidade em que nos inserimos. Esses costumes, mesmo que podendo estar errados, seriam no fundo tão errados como os de qualquer outra comunidade.

Acredito, logo isso é verdade?

Tens de concordar comigo que pelo facto de acreditares seja no que for, por mais convictamente que seja, isso não faz com que isso em que acreditas seja de facto verdade. Não basta acreditar, é preciso que isso seja de facto comprovadamente verdade.

Atualmente diz-se que tem de ser primeiro validado pela ciência. Mas mesmo a ciência, volta e meia, vai dando como falsas certas coisas que no passado eram consideradas verdadeiras. E isso acontece porque, entretanto, surgiram novas evidências que demonstraram afinal o contrário do que se acreditava. Temos o caso da sardinha, por exemplo, em que no passado foi referida como fazendo mal à saúde e atualmente passa por ser um alimento muito saudável por ser rico em ómega-3.

Então, como podemos afirmar que determinada coisa é de facto verdade? E se amanhã, à luz de outros critérios que hoje não existem, se chegar a uma conclusão diferente?

No fim, talvez exista espaço para poucas certezas. Tudo o que temos como verdades, pode afinal não passar de meras crenças. Algumas dessas crenças podem parecer razoáveis, justas e aparentemente inquestionáveis. Mas será mesmo assim? São inquestionáveis aos olhos de quem e em que época?

Três coisas não podem ser escondidas por muito tempo: o sol, a lua e a verdade.

Buda

No entanto, talvez a verdade possa permanecer por muito mais tempo escondida do que o sol e a lua. Se é que existe mesmo a verdade, na sua essência mais pura.

Ultrapassar as próprias crenças

A perceção da realidade assenta sobretudo no sistema de crenças individual e na forma como cada um de nós interpreta aquilo que acontece.

As crenças são fundamentais no que toca à manifestação. Se não se acreditar em determinada circunstância, então essa circunstância tem todas as probabilidades de nunca se vir a manifestar. O oposto também é verdade. No final de contas, são as crenças a moldar a realidade de cada um de nós.

Três figuras femininas com três posturas diferentes: sonhadora, vencedora e de derrota. Cada postura corresponde à verdade em que cada uma acredita.

Assim sendo, talvez seja saudável que nos questionemos acerca daquilo em que acreditamos.  E que, no final, estejamos dispostos a reconsiderar as nossas perspetivas sempre que nos deparemos com formas mais eficazes de solucionar os problemas que nos atormentam.

Modelar experiências positivas

Por exemplo, imagina que foste vítima de abusos na tua infância e que acabas de sair de um relacionamento tóxico. Acreditas agora profundamente que é impossível ter um relacionamento saudável. 

Mas, e se encontrares alguém que no passado também teve relacionamentos abusivos e tóxicos e que, mesmo assim, vive agora um relacionamento saudável? Não procurarias saber como é que essa pessoa conseguiu dar a volta à sua vida? Não procurarias aprender com ela e modelar a sua experiência?

O problema é que a maioria das pessoas nessas circunstâncias não o faz. Em vez disso, prefere acreditar que todos os possíveis parceiros não prestam e são abusadores. Prefere conformar-se com uma realidade limitante criada através de crenças limitantes.

Uma pessoa disse-me um dia: “A minha mãe foi infeliz, a minha avó foi infeliz, eu também vou ser sempre infeliz”. E é um facto que essa pessoa será sempre infeliz enquanto não fizer nada para curar o seu passado e mudar o seu sistema de crenças.

“Quer acredite que consegue fazer uma coisa ou não, você está certo.”

Henry Ford

A verdade absoluta por detrás das crenças

Devemos, de uma forma regular, parar para nos questionarmos:  “Aquilo em que acredito ajuda-me a ter a vida que quero para mim? Ajuda-me a alcançar os meus objetivos? Ou, pelo contrário, afasta-me deles?”. E ainda: “Tenho a certeza de que estas crenças que me bloqueiam são uma verdade absoluta?

Acreditar que algo é possível significa estar focalizado nas soluções. Acreditar que algo é impossível significa estar focalizado nos obstáculos. Por isso, a importância de mudar de paradigma.

No final de contas, o que é possível ou impossível tem muito a ver com a noção que cada um de nós tem acerca do que é verdade e do que é mentira. Se acreditas que determinada circunstância pode ser verdade, então essa circunstância, mesmo que seja considerada impossível por toda uma comunidade, torna-se realidade. Se acreditas que determinada circunstância não pode ser verdade, mesmo que seja apoiada por essa mesma comunidade, então essa circunstância jamais se materializará na tua vida.

Caso verifiques que não acreditas em algo que te poderia trazer uma vida melhor, desafio-te a reconsiderar. Isso que desejas é assim tão difícil de alcançar? Nunca ninguém o conseguiu, partindo do mesmo ponto em que te encontras hoje? Faz as tuas pesquisas. As respostas que encontrares podem mudar a forma como tens encarado a vida.

*Helena Martins é Terapeuta e Coach com foco em Propósito de Vida e Transformação Pessoal. Nas suas consultas utiliza ferramentas do Life-Coaching, da Terapia Transpessoal, do Método de Louise Hay e da Psicossomática.

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