A expressão “minimalismo” surgiu de movimentos artísticos que davam prioridade ao uso de poucos elementos na sua forma de expressão. Aos poucos e poucos, o conceito foi sendo transferido das artes visuais, design e arquitetura para a esfera social. Neste artigo vamos explorar a relação que existe entre minimalismo e sucesso pessoal.
O que é o minimalismo
Além de uma tendência de moda, o minimalismo acabou por se tornar uma ideologia, ou mesmo um estilo de vida. Na prática, procura-se viver com o mínimo possível de coisas. Dessa forma, o seu lema poderia muito bem ser “Menos é mais”.
De uma certa forma, ao adotar o minimalismo está a negar-se o consumismo e os seus excessos. Por isso, os seus adeptos procuram não depender de bens materiais, combatendo a ostentação e o desperdício. Livram-se do que não é necessário e concentram-se no que realmente é importante para a sua realização pessoal, independência e liberdade.
Sucesso pessoal e minimalismo
Antes de mais, as questões que aqui se colocam são:
- Será que para se obter sucesso pessoal é necessário ser possuidor de muitos bens materiais?
- Qual o verdadeiro significado de sucesso pessoal, afinal?
- Será que enquanto se trabalha arduamente para acumular mais e mais coisas não se está a prescindir daquilo que afinal pode facultar mais felicidade?
- Não serão a liberdade, independência e tempo livre para fazer o que verdadeiramente se gosta mais importantes para o sucesso pessoal do que bens materiais?
Pode ser que fazendo estas perguntas se chegue à conclusão que é preferível viver somente com o essencial, em vez de refém do consumismo. No fim de contas, acredito que o sucesso pessoal se prenda mais com o nosso interior do que com o exterior. Isto não quer dizer que não se possa ter uma boa casa, um bom carro ou roupas confortáveis. No entanto, não faz para mim qualquer sentido a acumulação de bens por uma questão de status ou para parecer bem-sucedido.
Como ser-se inspirado pelo minimalismo
Vou trazer o exemplo de Andrew Hyde, de quem ouvi falar há alguns anos. Ele é um empreendedor multifacetado que podemos considerar como criativo, consultor, escritor, blogger, designer e organizador de eventos. Nasceu em Oregon, nos Estados Unidos. Com humor e indisfarçável orgulho, intitula-se a si próprio como vagabundo e minimalista.
Verdadeiramente apaixonado pela escrita e por tudo o que envolva comunidade e viagens, o jovem decidiu viajar pelo mundo durante pelo menos um ano com o intuito de recolher material para a publicação de um livro. Nepal, Colômbia, Japão, Taiwan, Tailândia, Austrália, Quénia, Qatar, Emirados Árabes Unidos e Panamá foram alguns dos países cujas gentes, cultura e filosofia de vida se entrecruzaram nas histórias que fariam parte integrante da sua escrita.
Para conseguir concretizar esse objetivo, Hyde deixou o seu emprego da altura e publicou uma lista na Internet colocando à venda tudo, ou quase tudo, o que lhe pertencia. Assim, automóvel, motos, capacetes, material informático, peças de vestuário, tendas, botas de neve, mobiliário, recheio do apartamento onde morava, livros… tudo foi transformado em dinheiro.
Sucesso pessoal e pensar “fora da caixa”
Alguns pormenores importantes podem ser retirados do seu exemplo. Em primeiro lugar, a coragem de Hyde ao permitir-se sair da sua zona de conforto. Isto porque ao fazer parte de uma cultura em que o sucesso pessoal é medido pelo que se possui ou não possui, será inequivocamente um sinal de coragem e flexibilidade mental libertar-se de praticamente todos os seus pertences.
Depois, revela alguém que pensa de forma diferente e assume essas diferenças. Alguém com a força de caráter suficiente para não ligar importância às opiniões dos outros e seguir em frente com as suas decisões. Porque não acredito que não tenha sido alvo de pressão ou críticas por parte de ninguém do seu ciclo familiar ou de amizades.
Por outro lado, é para mim gritante a sua capacidade de concretizar objetivos. Tudo poderia ter ficado no mundo das ideias, esperando pela ocasião “certa”, pelo momento “oportuno”, enfim, por um futuro longínquo supostamente nunca alcançável. Contudo, Hyde, de alguma forma, soube que o momento certo é sempre o momento presente, o agora.
Viajar pelo mundo somente com 15 objetos
O jovem orgulha-se de trazer o conceito minimalista para o quotidiano. Afinal, com o intuito de viver com um orçamento o mais reduzido possível, dispôs-se a viajar de mochila às costas. E para que a mochila se tornasse suficientemente leve, viu-se confrontado com a necessidade de viver por longos períodos com o mínimo possível.
Na fase de estratégia de planeamento, elaborou uma lista com todos os objetos que considerava imprescindíveis para o propósito da viagem. Essa lista foi sofrendo cortes para que se pudesse limitar ao mínimo possível.
Finalizou com somente quinze objetos: Mochila; iPhone; Máquina fotográfica; iPad; Camisa de mangas compridas; Camisa de mangas curtas; Calças compridas; Bermudas; Roupa interior; Sandálias; Óculos de sol; Carteira; Toalha; Casaco ou blusão e Estojo de toilette. De referir que, somente com estes objetos, conseguiu realizar de 30 a 45 dias interruptos de viagem. Artigo original
Como é que ele planeava o que fazer e visitar durante as viagens? Muito simples, apesar de já levar estruturados os principais objetivos, não estabelecia planos a longo prazo. Fazia a reserva de alojamento em hostels através da Internet, seguia as recomendações de pessoas que ia encontrando, como por exemplo outros viajantes de mochila às costas com quem estabelecia amizades. Para ele, a vida transformou-se literalmente numa viagem.
Bagagem emocional versus bagagem material
Será que a bagagem emocional adquirida com experiências de vida que são relevantes para a nossa alma contribui mais para o sucesso pessoal do que propriamente bagagem material?
Mais tarde, Andrew considerou que nunca se sentiu privado de coisa alguma ao fazer as viagens com tão pouca bagagem, à parte o facto de sentir saudades de diversificar as cores do vestuário. Por outro lado, revelou ter acumulado uma enorme bagagem em termos de experiência de vida, salientando ter aprendido, entre outras coisas, o seguinte:
- A ser mais paciente
- A apreciar mais as coisas
- A comer menos
- A ser mais feliz
- A percepcionar como é sentir-se diferente, a falar de modo diferente e a ser de facto diferente
- A focalizar-se sempre nos aspetos positivos da vida
Fazer o que se ama como forma de vida
No fim de contas, Hyde trocou o conhecido pelo desconhecido. Desse modo, deixou para trás uma vida confortável. E, curiosamente, ao realizar o seu sonho ganhou uma nova forma de vida mais condicente com a sua essência. O seu livro sobre viagens alcançou o primeiro lugar de vendas para iBooks na Amazon e o seu trabalho mereceu destaque em publicações como NYTimes, NBC World News, Washington Post, Boing Boing, Boston Globe, INC, Entrepreneur, Daily Mail, e Nepal Times.
Este exemplo de vida inspira-nos a fazer o que amamos e não o que nos parece rentável à primeira vista. Mostra-nos ainda que, quando alinhados com os nossos sonhos, o lucro acaba sempre por acontecer. E não será isto sinónimo de sucesso pessoal?
Obviamente que a grande maioria de nós não encontrará realização em vender tudo o que tem e dedicar-se a viajar pelo mundo. Nem todos temos esse propósito na vida. Cabe a cada um de nós descobrir quais as suas paixões, traçar os seus planos e empenhar-se na sua concretização. Propósito de vida: Sabes qual é o teu?
Benefícios do minimalismo
- Sustentabilidade e preservação do meio ambiente e recursos naturais.
- Saúde e bem-estar psicológico. Redução ou eliminação da ansiedade e do stress.
- Liberdade para fazer o que realmente dá mais prazer.
- Mais tempo para dedicar aos familiares e amigos.
- Estabilidade financeira. Ao adotar o minimalismo, muitas pessoas relatam ter acabado com dívidas ou acúmulos nos cartões de crédito.
Minimalismo para o sucesso pessoal
O conceito do minimalismo pode contribuir para o sucesso pessoal ao conferir sentido à vida. Vê abaixo de que forma isso é possível:
Estabelecer prioridades e definir metas
Estabelece o que atualmente é de facto mais importante para ti. Quais são as áreas que mais merecem a tua atenção? O que é para ti mais importante? O que agrega valor e satisfação à tua vida? Quais são as tuas prioridades? Faz uma lista com tudo o que te lembrares.
Quando terminares, esforça-te por reduzir ainda um pouco mais a lista. Será que tudo o que tens na lista é realmente imprescindível? Não haverá nada a mais? Abre espaço para o que é realmente imprescindível na tua vida.
Desapegar de tudo o que é supérfluo
Até que ponto te fazes rodear por coisas que não precisas? O que poderias dispensar em tua casa e no dia-a-dia, contribuindo para uma poupança significativa dos teus recursos e até dos recursos do planeta? Espaços mais pequenos ou vazios não são sinónimo de frieza. Muito pelo contrário, esses espaços podem ser mais acolhedores. Principalmente quando os seus ocupantes dão prioridade ao que os faz verdadeiramente felizes.
Utilizas tudo o que tens em tua casa? Presta atenção a livros, objetos que foste acumulando nas viagens e passeios, roupa que não vestes e se calhar nunca vestiste, álbuns de música, discos e cassetes que não ouves há muitos anos, revistas e jornais antigos. Faz limpeza geral à tua casa e conserta, doa ou deita fora tudo o que não tiver sido usado nos últimos tempos. Procede à libertação de espaço físico. Há objetos que poderão ter valor sentimental, contudo isso não acontecerá com todos eles. Procura ficar com menos móveis, menos utensílios, menos aparelhos electrónicos, menos roupas e objetos. Liberta-te de tudo o que está a mais.
Aproveita a onda e liberta-te também de pensamentos e sentimentos tóxicos. Deita fora as crenças negativas e padrões de comportamento que deixaram de fazer sentido. Procura viver com o coração e conforme as leis do universo. Existe beleza na simplicidade. Aprende a valorizar mais experiências do que objetos.
Reduzir o consumo ou gastos desnecessários
Habitua-te a consumir de forma consciente. Antes de comprar seja o que for, questiona-te se precisas mesmo desse artigo ou produto. Certifica-te que não tens já algo com a mesma finalidade. Há pessoas que relatam ter várias peças de roupa idênticas e da mesma cor, precisamente por terem comprado por impulso. Faz uma lista com o que precisas mesmo e determina-te a não comprar novos objetos que não constem dessa lista. Precisas mesmo disso? Se a resposta for negativa, não compres. Se a resposta for positiva, verifica se podes adquirir em segunda mão ou pedir emprestado a alguém. Reaproveita. Compra menos, recicla mais. Poupa dinheiro que pode ser canalizado para o que verdadeiramente te faz feliz.
Desconectar e descansar
Decide quais são as três tarefas mais importantes do teu dia e concentra-te em fazer uma de cada vez. Diz Não às multitarefas. Precisas de ter menos atividades de baixa relevância, para que te sobre mais tempo para o que verdadeiramente importa. Deixa o teu telemóvel e outros aparelhos eletrónicos desligados por algum tempo. Inclui mais tempo de leitura e passeios no exterior. Ou simplesmente fica em silêncio, reflete e medita. Não precisas de ser produtivo o tempo todo. Tira algum do teu tempo somente para fazer o que te faz bem.
E, por fim, sugiro que te questiones acerca do que é mais importante para ti. Ter dinheiro ou ter tempo? Nunca te esqueças que é sempre possível recuperar dinheiro perdido, mas é impossível recuperar tempo. Em vez de viver para ganhar muito dinheiro, pode ser preferível aprender a viver com menos. Ao fazê-lo, ganha-se tempo livre para se fazer o que mais se gosta de fazer. E poder fazer o que se gosta mais de fazer reflete-se no nosso sucesso pessoal. Será que, bem lá no fundo, és também um adepto do minimalismo?
*Helena Martins é Terapeuta e Coach com foco em Propósito de Vida e Transformação Pessoal. Nas suas consultas utiliza ferramentas do Life-Coaching, da Terapia Transpessoal, do Método de Louise Hay e da Psicossomática.